domingo, 17 de abril de 2011



''Duas horas, direis, é muito tempo.







Se estivesse construindo uma casa, quantos tijolos poderia ter erguido?


Se tivesse plantado sementes no campo, quantos frutos colheria?






E, no entanto, passei 2 horas à beira mar apenas marulhando a alma.






Do outro lado, o mundo, o mundo urgia velocidades, buzinas, papéis nos escritórios, aplicações ao telefone e decomposições hospitalares.






Mas eu o ignorava.






Aquelas duas horas inteiras foram as mais úteis de quantas apliquei ao nada.


Aplicar-se ao nada, sinal de humilde sabedoria.






Certa vez, li que o homem somente entenderia o “tudo” depois que exausto e falido diante desse “tudo” começasse a construir o “nada”.






Esta não é uma frase que se entende assim de uma hora para outra.


Por isso, quem não a entender agora, guarde-a para o futuro, que o nada do tudo florescerá.






Ficar marulhando a alma à beira-mar maravilhado, eu lhes digo, é um ritual, às vezes, urgente e necessário.


Nenhum ganho a isto se equipara. Voltamos para casa acrescentados.


Como o marinheiro que volta com o seu barco para casa.


Como um pescador, que volta com os seus peixes, invisíveis, é claro, mas que vão me alimentar.''














- Affonso Romano de Sant'Anna


















Assino em baixo!


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