terça-feira, 26 de abril de 2011
E consegue tudo de mim. Consegue até o que ninguém nunca conseguiu: me deixar leve.
Sabe rir mole de bobeira? Sabe dançar idiota de alegria? Sabe dormir com saudade?
Sabe tomar banho sorrindo para a sua pele? Sabe cantar bem alto para o mundo entender?
Sabe se achar bonita mesmo de pijama e olheiras? Sabe sentir algo estranho no estomago
segundos antes de vê-lo e ter fome de mundo segundos depois de abraçá-lo?
Sabe sobrevoar o frio, o cinza, os medos, os erros e tudo que pode dar errado?
Ele me aperta como sempre, até que algum ossinho da minha coluna estale, e me diz,
como sempre também: “Que é que você tem que eu sempre largo tudo e venho te ver?”
Eu limpei minhas mensagens, eu deletei meus emails, eu matei meus recados,
eu estrangulei minhas esperas, eu arregacei as minhas mangas e deixei morrer
quem estava embaixo delas. Eu risquei de vez as opções do meu caderninho,
eu espremi a água escura do meu coração e ele se inchou de ar limpo, como uma esponja.
Uma esponja rosa porque você me transformou numa menina cor-de-rosa.
Você me transformou no eufemismo de mim mesma, me fez sentir a menina com
uma flor daquele poema, suavizou meu soco, amoleceu minha marcha e
transformou minha dureza em dança.
Você quebrou minhas pernas, me fez comprar um vestido cheio de rendas e babados, tirou as pedras da minha mão, Você.
[Tati Bernardi]
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